No entanto, quando se leva em conta a desigualdade, o país despenca 15 posições para a 88ª posição na lista dos países analisados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
A razão para a marcha ré se deve aos elevados padrões de desigualdade que "comeram" 27,2% do desenvolvimento humano. O Brasil teve perdas superiores à média (24%) e uma das maiores quedas entre os países de seu grupo. Apenas Peru, Belize, Colômbia, e Panamá tiveram "prejuízos" mais consistentes.
Entre os emergentes, a Rússia apresentou queda de 11,5%. A China, em 89ª posição pelo IDH, amarga perdas de 23%, junto com a Índia, na lanterna dos emergentes, com um recuo de quase 30%.
Segundo o Pnud, a desigualdade tem efeito negativo mais intenso, sobretudo, na educação e na saúde. No Brasil, a má distribuição dos rendimentos continua a ser o principal entrave. As maiores perdas ficaram nos rendimentos per capita, que tiveram um impacto negativo de 37,6% sobre o desenvolvimento humano. A educação teve uma queda de 25,7% no índice e a esperança de vida, queda de 16,6%.
No entanto, as perdas em virtude da desigualdade já foram maiores. Em 2000, a perda ao IDH era de 31%. Em 2005, ficou em 28,5% e neste ano 27,2%.
Estatísticas mais rigorosas
Segundo o economista do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano, Flávio Comim, o fato de o país ter subido quatro andares, entre 2009 e 2010, mostra que houve melhora: -O IDH brasileiro avançou em todas as dimensões (saúde, educação e renda) - disse ele, lembrando que o índice do país subiu de 0,693, em 2009, para 0,699, em 2010.
No entanto, diante das mudanças na metodologia de cálculo do IDH que acabam de ser promovidas pelo Pnud, os desafios para que o país comprove que elevou a qualidade de vida da população, especialmente na área de educação, ficaram maiores. Comim lembrou que foram alterados os critérios de renda (que deixou de ser classificada pelo Produto Interno Bruto per capita e passou para Renda Nacional Bruta per capita) e educação (que mudou de taxa de alfabetização e matrícula para anos de estudo) na conta do IDH. Além disso, foi adotada uma nova forma de agregar os dados, de maneira que um indicador muito bom num país não mascare outros que sejam ruins.
-Estamos falando agora de olhar para as estatísticas com mais rigor. O Brasil ainda tem muito trabalho pela frente - afirmou o economista.
Ele explicou que o país se beneficiava quando a conta era feita com base, por exemplo, na taxa de alfabetização. Embora o país tenha uma elevada incidência de analfabetismo funcional (40% e 50%), o número de brasileiros que sabem ler e escrever é elevado. Agora, no entanto, o que valerá serão os anos de estudo das pessoas com mais de 25 anos e a expectativa de anos de estudo para crianças. E nesse ponto o Brasil tem problemas.
A média de escolaridade para pessoas com mais de 25 anos no país é de anos 7,2, número igual ao registrado no Zimbábue, país com o pior IDH do ranking. Pelo critério do Pnud, o indicador ideal seria o que foi registrado nos Estados Unidos em 2000, 13,2 anos. Outra dificuldade está na expectativa de anos de estudo para crianças que ingressam nas salas de aula. No Brasil, esse indicador é de 13,8 anos, sendo que o considerado ideal para o desenvolvimento humano seriam os 20,6 anos registrados na Austrália em 2002.
Segundo Comim, as estatísticas brasileiras também ficam negativas quando se observam os índices de repetência e evasão escolar. No país, aos 9 anos, 16% das crianças não estão na série adequada. Já aos 16 anos, esse percentual sobe para 40%.
Clarice Spitz e Martha Beck
O GLOBO











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